Este início de ano tinha de trazer consigo esperança. Pois não são todos os recomeços esperançosos? 😊 Neste caso o projecto que hoje vos trago é de esperança verde, para esta nossa casa chamada Terra.
O Âncora Verde é um dos projectos recentes mais interessantes na divulgação de ideias e acções para um ambiente sustentável e uma vida mais minimalista e ecológica. Como diz a Leila, criadora do projecto, no seu manifesto online “O âncora verde surgiu da minha vontade de mudar mentalidades, alterar comportamentos, tornar as pessoas mais conscientes...”
Somos já muitos nesse caminho de divulgar e inspirar para promover mudanças do bem, por isso foi um prazer poder conhecer mais sobre esta plataforma verdinha.
(c) Âncora Verde |
R: Olá Paula! Em
primeiro lugar, muito obrigada pelo convite. É uma honra e um prazer poder
falar sobre o meu projeto contigo. Pode parecer
estranho, mas o click para avançar foi muito simples, apesar de ter sido o
culminar de um processo interno muito longo: percebi que eu também não estava a
fazer nada para mudar o mundo.
Sempre me revoltei com a inércia das outras
pessoas, com o “fechar de olhos” e com o “virar a cara” e um dia percebi que
estava a fazer exatamente a mesma coisa, mas um bocadinho pior: eu sabia e não
fazia nada para ensinar outros a saberem também. A partir desse momento, foi
quase como uma obsessão e não descansei até ter o blogue online.
V1.0: E o nome Âncora Verde como
surge?
R: Tenho que confessar que a escolha do nome não foi nada
fácil. Na verdade, o nome original do blogue era “Três Tristes Tigres” mas
achei que as ligações com a banda dos anos 80 e o próprio nome em si não
ajudavam a transmitir a mensagem que queria passar.
Queria algo
leve mas com significado. “Âncora Verde” surge um bocadinho ao acaso, como a
última de muitas opções que fui listando num bloco de notas ao longo de uma
semana. Foi a única que me encheu as medidas.
O
significado figurativo da âncora, símbolo de firmeza, força, tranquilidade e
esperança, fascinou-me. Achei que era exatamente o que queria transmitir com o
projeto. A junção da palavra “Verde” serviu para direcionar o significado deste
símbolo para a área ambiental.
V1.0: Profissionalmente estás ligada
à área ambiental ou é uma preocupação pessoal muito para lá disso?
R: Não, apesar de
ser um objetivo de médio prazo. Neste momento, trabalho a tempo inteiro numa
empresa de consultoria de gestão e nem sempre é fácil gerir todo o dualismo que
isso acarreta. Para já, o blogue é o meu “escape”, mas cada vez mais sinto a
necessidade de me alinhar totalmente comigo, com os meus valores, e de deixar
para trás tudo o que já não faz sentido.
V1.0: O que fazes no teu dia a dia
para minimizar lixo e poupar mais o planeta?
R: Coisas muito
simples. Como explico no meu blog, não temos todos que fazer tudo. Se cada um
de nós adotar dois ou três hábitos mais conscientes, começamos a mudar a
sociedade aos poucos.
Resumidamente,
troquei os sacos de plástico por sacos de pano para ir às compras. Deixei de
utilizar sacos descartáveis para a fruta e legumes e passei a levar os meus
reutilizáveis de tule. Passei a comprar no mercado local, sempre que possível a
granel, coisas da época e de produtores da região. Como levo marmita para o
trabalho, passei a utilizar guardanapos de pano e individuais também de pano. Não
parece, mas ao final da semana, a diferença é enorme!
Todo o lixo orgânico que
produzo vai para a compostagem e tento reaproveitar tudo ao máximo. Passei a
comprar roupa apenas em lojas de segunda mão e tento ao máximo aumentar o tempo
de vida útil das peças que tenho em casa. As compras de tudo o que não seja
para alimentação são ponderadas de forma cuidada e opto também muitas vezes por
comprar em segunda mão. E tantas outras pequenas coisas que já nem dou conta
que faço!..
É importante
dizer que tudo isto foi um processo. Não foi de um dia para o outro. O que
aconselho para quem quer começar a reduzir a sua pegada ecológica é começar a
implementar um hábito de cada vez, para a mudança não ser demasiado brusca.
(c) Âncora Verde |
V1.0: Que conselhos podes dar a quem
está a começar neste caminho? Por onde se deve começar, quais as acções simples
e fáceis de implementar, mas já com impacto positivo no ambiente?
R: O mais
importante de tudo é começar. Escolher um campo, uma ação, um hábito que
queremos alterar e começar.
A pensar
nisto mesmo, elaborei um pequeno Guia que lancei em forma de e-book com diversas
dicas que nos ajudam a ser mais conscientes e a produzir menos lixo. Está
apresentado de forma muito simples e dividido em 5 categorias principais, com
dicas muito simples e fáceis de implementar. Escolham duas, três, cinco e
ponham “mãos à obra”! 😊
Aconselho
sempre também a verem primeiro os documentários que menciono no meu blog. É a
melhor forma de obtermos muita informação num curto espaço de tempo e de
ficarmos sensibilizados com os problemas. Depois aconselho que comecem a
aprofundar os vossos conhecimentos. Pesquisem, leiam, leiam muito, perguntem, e
não se deixem nunca enganar pelos interesses económicos que estão muitas vezes
por trás de campanhas de “contra-informação”.
V1.0: Que maiores números e dados
“abre-olhos” podes indicar para uma maior tomada de consciência do real
problema?
R: Em Portugal,
cada pessoa produz em média cerca de 440kg de resíduos por ano. Apesar de ter
diminuído cerca de 50% entre 2011 e 2016, a percentagem de lixo que vai
diretamente para os aterros ainda é considerável: cerca de 30%. Dos restantes,
22% são incinerados e apenas 27% são reciclados.
Nos 10
primeiros anos deste século produziu-se mais plástico do que durante todo o
último século. A quantidade de pedaços de plástico a flutuar nos oceanos
aumentou mais de cem vezes nos últimos 40 anos. E a situação não tende a
melhorar: prevê-se que até 2050 haja mais plástico no mar do que peixes e que
99% das aves marinhas tenham pedaços deste material no seu aparelho digestivo.
Todos os
dias entre 4,8 e 12,7 milhões de toneladas métricas de plástico entram no
oceano, 93% dos quais são resíduos dos consumidores.
Estamos a
matar a vida. E toda a gente sabe mas ninguém se importa.
Podia
apresentar muitos mais factos ou números chocantes, mas acredito que neste caso
em concreto, é muito mais impactante e benéfico se as pessoas virem de forma
real os impactos destes números no planeta. Aconselho vivamente os
documentários “Trashed” e “A Plastic Ocean” sobre estes temas, para conhecermos
melhor esta realidade que nos tentam esconder diariamente.
V1.0: Tu indicas no teu site vários
livros e vídeos que podem ajudar a dar uma perspectiva sobre o problema
ambiental que vivemos. A ti quais te marcaram mais?
R: Todos me
marcaram um bocadinho, mas se tivesse que eleger apenas um, seria o “The True Cost”. Afetou-me a níveis muito profundos. Confesso que chorei copiosamente
durante meia hora depois de ver este o documentário e mudei radicalmente muitos
dos meus hábitos depois disso. Parece um pouco apocalíptico e despropositado,
porque afinal é só um documentário, mas é muito mais que isso: é a realidade. A
realidade nua e crua, a que está longe de nós, a que ignoramos e fingimos que
não existe. O documentário são pessoas. São humanos. Podíamos ser nós. E é o
ambiente. São os ecossistemas. É o planeta. É a nossa casa.
V1.0: Que projectos tens para o
Âncora Verde em 2018?
R: Imensos! Tantos
que às vezes é difícil manter o foco. Para já, e nos primeiros meses do ano,
vou justamente abordar o tema da moda. É um tema muito sensível para mim e um dos que me
levaram a tomar a decisão de criar este projeto. Quero mostrar o outro lado da
indústria, aquele que normalmente não vemos, ou não queremos ver. Quero que as
pessoas percebam os problemas, as implicações. Quero que sejamos todos mais
conscientes.
Em 2018, quero
ajudar a mudar o mundo aos bocadinhos. Quero conhecer e divulgar mais projetos
e mais pessoas que estejam envolvidos também nesta missão. Quero continuar a
informar sem julgar. Quero crescer e continuar a manter o projeto coeso. Quero
expandir horizontes.
Coisa pouca,
não é? 😊
Muito
obrigada mais uma vez Paula, pela oportunidade e pela entrevista tão bem
estruturada! Resta-me dizer que estou disponível para qualquer dúvida ou
sugestão que tenham relativamente ao Âncora Verde ou aos temas que por lá vou
abordando.
O Âncora Verde é sem dúvida um dos projectos de 2017 mais interessantes de ir acompanhando em 2018, na área sustentável. Sigam a Leila no seu site, no facebook ou no instagram. Ela estará do lado de lá a dar dicas e muita inspiração para que todos possamos ajudar o planeta nas nossas rotinas. Ele precisa urgentemente.
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